Worklover ou workaholic? Como você se relaciona com o trabalho?

Sentir prazer em trabalhar e dar o melhor de si conta pontos no seu currículo e na sua carreira. Mas viver obcecado pelas questões profissionais pode levar você ao fundo do poço (e não a subir na vida). 

Por Wilson Weigl

O culpado foi o sexo. Se Adão não tivesse comido a maçã para se dar bem com Eva, não teria sido condenado pelo Todo-Poderoso a “ganhar o pão com o suor do rosto”. E estaria até hoje coçando o saco no Paraíso. Então todos nós que não recebemos uma grana preta de herança nem somos políticos e desviamos dinheiro público temos que dar duro todo santo dia para ganhar o pão. E daí entramos numa área nebulosa: nossa relação com o trabalho é saudável ou uma compulsão que nos impede de desfrutar a vida por permanecermos sempre “ligados” em nossas atribuições?

Você com certeza conhece algum workaholic, aquele cara que não consegue se desligar do trabalho, coloca em segundo plano a convivência com familiares e amigos e sempre arranja uma desculpa para sacrificar o lazer e resolver alguma “pendência”. “Mesmo fora do ambiente de trabalho ele sempre traz para as conversas temas relacionados aos negócios, o que acaba afastando as pessoas do seu convívio”, diz Celso Bazzola, diretor executivo da Bazz Consultoria. Mas seria você também um desses caras?

Diferentemente de algumas décadas atrás, hoje o trabalho se entrelaça com nossa vida particular por conta de e-mails, conversas por skype ou mensagens de whatsapp fora do horário do batente. Isso acontece com praticamente todo mundo e até certo ponto é normal, por ser uma característica da atual dinâmica de trabalho.

Mas como saber se nos enquadramos na categoria dos workaholics ou dos worklovers (que curtem seu trabalho e dão o melhor de si no desempenho de suas funções)? Celso Bazzola explica as diferenças:

COMO IDENTIFICAR UM WORKAHOLIC? VOCÊ PODE SER UM

As pistas são fáceis de notar: o workaholic geralmente fica mais de 12 horas por dia no escritório, leva serviço para casa (sem reclamar), checa as mensagens do e-mail do trabalho a toda hora e, muitas vezes, sacrifica um programa no fim de semana para “adiantar” algum serviço.

Frequentemente o workaholic tem autoestima exagerada, é altamente competitivo, porque valoriza qualidades profissionais (competência, rapidez na execução de tarefas, agilidade na toma de decisões etc) em detrimento das virtudes pessoais.

WORKAHOLIC OU WORKLOVER?

É importante saber diferenciar o amor ao trabalho do vício. Um worklover ama seu trabalho, como o nome já diz, sente prazer em desempenhar suas funções, mas tem noção do equilíbrio que deve haver entre vida profissional e pessoal. Sabe que o excesso de trabalho se refletirá em conflitos nos relacionamentos pessoais e trará efeitos nocivos à sua saúde e seu bem-estar. “O empenho em entregar resultados é positivo. Mas é importante ter em mente que o o workaholic não é necessariamente um profissional mais eficiente ou produtivo. Há pessoas que não conseguem ter organização no dia-a-dia e acabam trabalhando mais tempo para entregar o mesmo resultado”, explica Bazzola.

TRABALHAR DEMAIS É SINTOMA DO PROBLEMA?

Não, porque hoje as empresas encolheram, há menos funcionários em seus quadros, as pessoas acumulam funções e trabalham muito por salários mais baixos do que antigamente (políticos, senadores, deputados e políticos de Brasília são exceção, certo?) Segundo Celso Bazzola, “não há pecado em trabalhar esporadicamente além da carga diária, desde que isso ocorra por necessidade de urgência e de impacto específico. Isso, para o mercado de trabalho, acaba sendo um diferencial, mas tanto o profissional quanto a área de Recursos Humanos devem identificar se há exageros em uma rotina normal de trabalho. Quando a carga horária começa a extrapolar constantemente é momento de refletir. O trabalho será saudável enquanto não aprisiona a pessoa na necessidade constante de falar e estar agindo pelo trabalho”.

SER WORKAHOLIC É UM DISTÚRBIO PSICOLÓGICO?

Essa compulsão é classificada pelos médicos como um distúrbio de comportamento, um vício como qualquer outro, que impacta negativamente a vida pessoal e traz sensação de isolamento. Estudos recentes de casos clínicos em consultórios psicológicos e psiquiátricos apontam que o vício em trabalho é similar ao do álcool ou da cocaína.

Sintomas desse distúrbio são insônia, mau humor, depressão e atitudes agressivas em situações de pressão. Muitas vezes o problema atinge o nível físico, interferindo na vida sexual por causar diminuição da libido (como ter tempo para pensar em sexo com tanto trabalho?) e até impotência sexual.

O WORKAHOLIC NUNCA É O FUNCIONÁRIO IDEAL?

Ter em seu quadro de funcionários workaholics seria o sonho de consumo para qualquer empresa? Não, ao contrário. Segundo Bazzola, a situação pode ser até prejudicial para a empresa. “Acredito que para o empregador a situação traz mais desvantagens do que vantagens. Inicialmente pode ser interessante, pois a velocidade dos resultados é satisfatória, porém esse profissional sofrerá um inevitável desgaste emocional, pelo isolamento e dificuldade de relacionamento com os colegas, comprometendo seu entrosamento e o desempenho de sua função”, diz o consultor.

COMO SER UM WORKLOVER E NÃO UM WORKAHOLIC

A chave é procurar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, buscar valorizar mais os momentos de lazer e perceber que o descanso é fundamental para a melhoria do desempenho e busca de novas ideias que podem potencializar os resultados no trabalho.

“É importante lembrar que a vida é muito mais do que só trabalho e que uma mente que não descansa não é totalmente sã”, afirma Celso Bazzola. “Não adianta trabalhar em excesso só por trabalhar, pois isso possivelmente ocasionará erros e necessidade de refazer o serviço. É preciso parar de trabalhar até para poder trabalhar melhor”, finaliza.

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